HISTÓRIA
A música e a história têm uma relação muito mais estreita do que se pode supor. É difícil imaginarmos qualquer movimento sociocultural sem uma trilha sonora. A começar pelo cinema, em que a música está quase sempre, intrinsecamente, ligada à construção da narrativa histórica. Sem a música, o suspense, o drama, o romance e a comédia não seriam capazes de chegar ao espectador de forma tão conectada aos sentidos.
Da mesma maneira, os hinos organizam um sentimento de pertencimento e servem de suporte às construções ideológicas. A música, enquanto tradução de uma identidade de Estado, como ocorre, por exemplo, com o hino nacional brasileiro e a marselhesa da França. O gigante destemido que rompe a metrópole opressora (gigante pela própria natureza...impávido colosso) ou nação que rompe com um passado de atraso e na revolução reinventa sua história. Seja no Brasil, na França, nos Estados Unidos ou em qualquer outro país, o hino é símbolo do Estado, parte da memória do seu povo, implicando em usos e abusos.
As canções românticas traduzem um sentimento difuso, às vezes, inseguro e ou de entrega à composição da história romântica de cada um. A música vai do romântico contido, parafraseando Cazuza, ao exagerado, que, jogado aos pés da amada, lhe entrega mil rosas roubadas. Desse modo, a música constitui um vasto repertório que alimenta o imaginário contemporâneo.
Nas ruas, os movimentos políticos e sociais usam a música como motivação para transmissão da sua mensagem. Nos últimos tempos, de acordo com José Geraldo Vinci de Moraes, ?Sons e ruídos estão impregnados no nosso cotidiano de tal forma que, na maioria das vezes, não tomamos consciência deles. Eles nos acompanham diariamente, como uma autêntica trilha sonora de nossas vidas, manifestando-se sem distinção nas experiências individuais ou coletivas. Isso ocorre porque a música, a forma artística que trabalha com os sons e ritmos nos seus diversos modos e gêneros, geralmente, permite realizar as mais variadas atividades, sem exigir atenção centrada do receptor, apresentando-se no nosso cotidiano de modo permanente, às vezes de maneira quase imperceptível?. (Moraes, RBH. São Paulo, v. 20, nº 39, p. 204. 2000)
Pensar os sons escutados, indiscriminados e simultâneos. Entender, o processo que envolve um turbilhão de ritmos, gêneros e estilos. Refletir a mercantilização da música, não apenas através da mídia, mas também da indústria de aparelhos. A re-significação, a reelaboração do gosto, a massificação e a diversidade da cultura musical. São temáticas que merecem uma compreensão histórica, uma vez que são potencialmente fontes para se produzir novos conhecimentos sobre a sociedade contemporânea. Até que ponto o que ouvimos está atravessado por angústias, transformações e perturbações, em que se repercutem outras dimensões.
Afinal, a música é um rico elemento da cultura de todos os povos. Sua problematização é oportuna em nossa contemporaneidade. Neste sentido, a Semana de História da UNIJALES espera contribuir para a construção de um debate profícuo e revelador. Esse é o papel da História: oferecer elementos, para a compreensão das transformações humanas. E a música é um campo vasto e instigante para a pesquisa histórica.
*Diretor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão
Coordenador do Curso de História da UNIJALES,
Autor dos livros Memória de Uma Metrópole e
IV Centenário da Cidade de São Paulo